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Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro nessa função de catar
pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.



Tratado geral das grandezas do ínfimo, Editora Record - 2001, pág. 43.

Um comentário:

  1. Esse poema mostra a situação de muitos catadores. Eles se enfeitam todas as manhãs saem atrás de seu sustento e de sua Familia. Pra muitos são considerados como um NADA. Mas eles bem valorizam muito o seu trabalho.

    São abandonados pela sociedade, hoje já são mais visados e já estão mais inseridos, mas antes eram vistos como apenas pessoas que viviam pelas ruas, e que sobreviviam do que as pessoas rejeitavam.

    Mas hoje tudo mudou, são vistos como os "Guardiões da sustentabilidade"

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