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O vinho dos trapeiros

"vê-se um trapeiro que vem, cabeça inquieta,

Catando e se apoiando em muros feito um poeta,
E, sem se inquietar com delatores, seus senhores,
Seu coração todo se abre a projetos sonhadores.

Presta juramentos, dita sublimes leis,
Arrasa pecadores, vítimas levanta,
E, sob o céu como um sólio suspenso,
Se embriaga no esplendor de sua virtude imensa."




(Baudelaire, 1849)
Fonte: Livro, Paris, Capital século XIX, Walter Benjamim

Um comentário:

  1. Os catadores de trapo apareceram em maior número nas cidades depois que, através de novos processos industriais, passou-se a dar um certo valor ao lixo. Eles trabalhavam para intermediários e representavam uma espécie de indústria caseira sediada na rua.
    Passaram-se mais de cento e cinquenta anos desde este poema e ainda hoje me espanto, as ruas com a mesma miséria das crianças e velhos catando o lixo nas calçadas, dos homens meio embriagados puxando carroças abarrotadas de trapos, os caminhões dos atravessadores passando adernados sob o peso de caixas e jornais... O lixo continua sendo mercadoria de troca disputada por esta gente (desempregados, despossuidos, excluidos)
    que ao entardecer ocupam as ruas dos bairros ricos ou de classe média como formigas atrás dos nossos restos, proletários desta estranha indústria que funciona debaixo de nossos olhos... Até quando isto? E o pior é que sabemos que não é este o derradeiro limite da miséria da humanidade.

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